A respeito da meritocracia

Diariamente leio vários amigos e colegas criticando a ideia da meritocracia. Argumentos, bem construídos as vezes, apontam o óbvio: O rico e o pobre tem condições de vida distintas e o primeiro tem mais oportunidades que os outros. O problema é que não existe uma única pessoa na direita, nem mesmo o mais radical e estúpido direitista do planeta, que afirme que todo mundo tem as mesmas oportunidades. Se trata de uma luta entre Dom Quixote e os moinhos de vento.

Os argumentos “meritocráticos” podem ser resumidos em 2 grandes grupos, então fica ai a compreensão pros amigos de esquerda entenderem e pararem de combater espantalhos:

1 – Todo mundo tem oportunidades.
A frase acima, provavelmente a ideia mais mal-interpretada no discurso político, resume muito bem a meritocracia: Mesmo o indivíduo mais patético, incompetente, falho e incapaz do planeta tem oportunidades enquanto estiver vivo. Claro que a regra é que as pessoas falhem, mas isso não quer dizer que não existiam oportunidades nem que a criação de uma situação cômoda seja garantia de sucesso.

O meritocrata entende que a tendência do mundo é sempre a desgraça, a incompetência e a destruição, assim sendo, o sucesso, independente de como ocorra, é sempre a exceção. Quem quiser, basta procurar a respeito do número de vencedores da loteria que foram à falência porque apesar de possuirem o capital, não tinham condições de acumulá-lo, sequer de mantê-lo. Não faltava dinheiro à eles, faltava competência.

2 – Quantas e quais oportunidades nós deveriamos igualar?

Carl Menger criou, muito tempo atrás, a teoria da utilidade marginal, que Mises veio depois à ampliar seu escopo à toda ação humana. Em resumo a ideia é a seguinte: A cada segundo, existem infinitas formas de ação, onde toda ação é sempre uma escolha de fazer x e não fazer y. Assim sendo, o ser humano comum jamais trabalha com decisões absolutas como “quero o fim da pobreza” ou “quero que todos tenham oportunidade”, somente podem pensar em termos de escolhas como “tiro capital do indivíduo x para dar ao y?” ou “devemos, com um custo de oportunidade do João, dar oportunidade ao Pedro?”

Dentro da ação humana, mesmo na cabeça do estado, não existe noções como “ricos” e “pobres”, pessoas “com oportunidades” e “sem oportunidades”, toda e qualquer ação do executivo, seja na tributação, seja na criação de programas sociais, é sempre discricionária e sempre relativa: Não existe um programa que “garanta comida aos pobres”, somente pode existir um programa que conceda um vale-alimentação de R$ 68 à Joana, R$ 123 ao Paulo e que escolha, por exemplo, não dar dinheiro ao Marcos, que é rico e não precisa. Não existem decisões absolutas, toda e qualquer escolha humana é sempre feita na margem do valor da última unidade.

Todo mundo é a favor de mais oportunidades e deseja o fim da pobreza e da miséria, o que é discutível é como conseguir isso, quanto custará, se existem opções melhores ou ainda, se isso não será prejudicial no longo prazo. E outra pergunta relevante: Quem vai planejar, controlar e administrar o fim da miséria? Eu ou você? Quais garantias existem de que não haverá desvio dos custos ou uso privado desses bens coletivos?

Ou, resumindo ambos os argumentos em uma única pergunta: O que prova que o programa “não meritocrático” funcionará de uma forma mais eficiente?

Deixe um comentário